Hugo Miguel: filho de árbitro, futebolista fraquinho, bom guarda-redes e homem caridoso, perfil por Duarte Gomes

Conhecem o Hugo?

Eu apresento-vos. O Hugo Miguel chegou à arbitragem ainda muito jovem, pelas mãos do seu pai, também ele árbitro de futebol distrital, em tempos idos.

O Sr. Moreira Miguel (era assim que eu e os mais novos o tratavam) já não está entre nós, mas foi um árbitro muito acarinhado pelos seus pares e amigos. Como era de esperar, contagiou o bichinho da arbitragem na cria. Não era para menos.

O Hugo passou parte da sua infância a ver botas e equipamentos, apitos e moedas, cartões e bandeiras espalhados pela casa. Mas a verdade é que a sua paixão pelo futebol começou antes de perceber que queria seguir as pisadas do seu progenitor.

Ainda menino e depois de muitos pontapés na bola (desde que houvesse algo arredondado, que se assemelhasse a uma bola, ele estava lá), escolheu dedicar-se à coisa um pouco mais a sério.

E como o jeitinho com os pés não era grande coisa (ainda hoje não é, eu bem via nas peladinhas a brincar lá nos treinos), explorou o dom que tinha nas mãos.
Sim. Nas mãos.

O rapaz tinha mesmo jeito para aquilo e tornou-se um caso sério à baliza. Não no futebol de redes largas, nem do pelado comprido e largo que hoje percorre vezes sem conta, mas no outro mais pequeno, o de salão, que se jogava nos ringues e que agora rola nos pavilhões.

Tinha tanto jeito que chegou a chamar à atenção de alguns olheiros de futsal. Por força disso, ainda representou alguns clubes em Lisboa, embora sempre nos escalões mais jovens.

Apesar do futuro antecipar boas perspetivas nessa variante, um dia chegou à conclusão que já chegava. E foi aí que trocou, definitivamente, as luvas de guarda redes pelo apito de árbitro.

Metade dele fez uma escolha livre. A outra metade escolheu homenagear o seu pai. Ele não o diz, mas nós sabemos.

Passaram mais de duas décadas desde o dia da estreia. Duas décadas com muitas centenas de treinos, jogos e muitos milhares de quilómetros. Mas o Hugo Miguel de hoje não é apenas o árbitro internacional de Lisboa.

É mais, muito mais do que isso.

O Hugo é uma pessoa simpática, educada e bem formada. É um bom amigo e um excelente colega, que escolheu a arbitragem à sua vida profissional porque sentiu que era fundamental dar mais de si para a sua evolução enquanto árbitro.

Percebeu, com o aumento do número de jogos, que precisava de mais tempo para treinar, para se preparar melhor e para aprender o mais possível. Porque, tal como todos os seus colegas, ele sempre quis acertar muito e errar o menos possível.

O Hugo é, além de árbitro, gente. O marido, filho, sobrinho, primo e pai de alguém. Tal como eu. Tal como o caro leitor.

É um ser humano atento, que oferece muito do seu tempo a quem luta contra o infortúnio.
Fá-lo sem publicidade. Porque ajudar é um ato de generosidade. Divulgá-lo é pura vaidade.

O Hugo é dos que veste a camisola. Em cada jogo que arbitra, leva consigo o orgulho da sua família, a honra da classe que representa e a responsabilidade de ser um exemplo para os seus filhos: não porque seja infalível mas porque é íntegro em todas as decisões que toma.

Não sei quando ou qual será a próxima partida que irá dirigir.
O que sei é que, seja qual for, ele vai “comer a relva”. Vai dar tudo o que pode e tudo o que sabe.

Quando apitar para o fim do jogo, o mais provável é que comece outro. Maior, mais ruidoso e bem mais injusto. Um que será medido com ferramentas que ele não pode consultar.

Mas isso já não será futebol. Será outra coisa qualquer.

Fonte: Expresso

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